Artigo: Deficiências de desenvolvimento, informação e saúde

 

Por Dr. Clodoaldo da Silveira Júnior, pediatra e Responsável Técnico do hospital Anchieta Ceilândia




 

A Organização Mundial de Saúde e o Unicef estimam que, em 2019, 317 milhões de crianças e jovens foram afetados, no mundo, por problemas de saúde que contribuíram para uma deficiência de desenvolvimento. Essa estimativa, entre outros pontos, está no relatório global publicado, em meados de setembro deste ano, pelas duas entidades – o Global Report on children with developmental disabilities.

Crianças com deficiências de desenvolvimento sofrem com estigmatização, preconceito, exclusão social e convivem com diferentes tipos de barreiras, que vão de problemas no acesso aos cuidados de saúde às desigualdades nos resultados da educação.

Porém, esse tema tem sido negligenciado muitas vezes e, por isso, merece destaque a importância desse relatório da OMS e Unicef ao jogar luz sobre a questão.

As deficiências de desenvolvimento são condições que afetam o sistema nervoso em desenvolvimento, resultando em impedimentos nas funções motoras, cognitivas, de linguagem, comportamentais ou sensoriais, assim como em deficiências associadas. Em relação à origem, essas deficiências podem vir de uma ampla gama de condições, que incluem autismo, distúrbios do desenvolvimento intelectual, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), além de outras desordens neurodesenvolvimentais e condições congênitas ou adquiridas no nascimento

Há anos atuando como médico na rede privada de saúde em Brasília, posso afirmar que, cada vez mais, atendo crianças com deficiências de desenvolvimento. A maior disponibilidade de acesso a dados e informações sobre essas condições para os pais e familiares, ocasionam uma maior atenção aos sinais de deficiência de desenvolvimento e aumentam a procura por atendimento médico.

Da mesma forma, entendo que uma maior capacitação dos profissionais de saúde para essas questões podem gerar um aumento dos diagnósticos e possibilitar, assim, um início mais precoce do tratamento.

A detecção de deficiências de desenvolvimento, como o TDAH, geralmente envolve uma combinação de avaliações médicas, observações de comportamento e relatórios de pais e professores. Além disso, pode incluir o uso de escalas de avaliação padronizadas e testes psicométricos.

Vários problemas de saúde podem provocar deficiências de desenvolvimento, como, por exemplo, complicações durante a gravidez; infecções pré-natais; exposição a substâncias tóxicas durante a gestação, como álcool e drogas; desnutrição; genética; e lesões cerebrais.

Algumas dessas condições são parcialmente evitáveis e a maioria tem algum tipo de tratamento disponível, embora, muitas vezes, não haja cura completa. Tanto do ponto de vista da pediatria quanto de saúde pública, o foco é na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento abrangente.

O estudo Global Burden of Disease (GBD) apresenta uma lista de condições em termos de prevenção e tratamento. Algumas delas são:

Perda auditiva: A triagem auditiva neonatal e as campanhas de conscientização sobre exposição a ruídos altos são essenciais, e os aparelhos auditivos ou implantes podem ser utilizados para tratamento.

Deficiência intelectual de desenvolvimento idiopática: Acompanhamento pré-natal e testes de desenvolvimento infantil ajudam na identificação e tratamento precoces, embora a prevenção seja limitada.

TDAH: Educação para pais e professores, além de diagnóstico e tratamento precoces com medicamentos e terapia comportamental, são fundamentais.

Paralisia cerebral: Melhorias nas práticas obstétricas podem reduzir riscos, e é necessário um tratamento multidisciplinar, incluindo fisioterapia e terapia ocupacional, entre outros.

Perda de visão: Triagem ocular precoce em pediatria e campanhas de saúde pública para uso de proteção ocular podem ajudar na prevenção e tratamento.

Concluindo, entendo ser possível melhorar a qualidade de vida das crianças e jovens com deficiências de desenvolvimento e minimizar o impacto dessas condições, por meio da combinação de estratégias de diagnóstico, intervenções terapêuticas e educação. 

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