Tecnologia: O Alicerce para a Transformação Social

Vivemos em uma era onde a tecnologia permeia todos os aspectos de nossas vidas, transformando a maneira como trabalhamos, nos comunicamos e interagimos. 
                                      

                                       

                                       Por Christian Tadeu, Presidente da Federação Assespro


Contudo, é fundamental reconhecer que seu impacto vai muito além de gadgets e aplicativos. A tecnologia está no cerne de uma revolução social, capaz de redefinir a estrutura das nossas sociedades, promovendo inclusão, igualdade e desenvolvimento sustentável.

A transformação digital já mostrou seu poder em áreas críticas como a educação e a saúde. Durante a pandemia, vimos um salto no uso de plataformas de ensino a distância, democratizando o acesso ao conhecimento e possibilitando que alunos em qualquer lugar do país, com uma conexão à internet, continuassem seus estudos. Na saúde, o avanço da telemedicina e o uso de inteligência artificial para diagnóstico precoce salvam vidas e otimizam recursos. No entanto, para que essa transformação atinja todo o seu potencial, é necessário enfrentar os desafios de infraestrutura e qualificação. A exclusão digital ainda é uma realidade para milhões de brasileiros, especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Este é um obstáculo que precisamos superar com políticas públicas eficazes e investimentos em conectividade.





Milhões de pessoas vivem em situação de vulnerabilidade social no Brasil, muitas delas com acesso limitado ou inexistente às ferramentas digitais. A exclusão digital priva esses cidadãos de oportunidades de educação, emprego e acesso a serviços essenciais. Sem o letramento digital – a habilidade de compreender e utilizar tecnologias para resolver problemas e acessar informações – milhões de brasileiros estão à margem dessa nova economia digital, incapazes de aproveitar plenamente os benefícios que a tecnologia pode oferecer.

O letramento digital não é apenas sobre aprender a usar um computador ou smartphone; trata-se de desenvolver competências críticas que vão além do uso técnico das ferramentas. É preciso capacitar os cidadãos para navegar com segurança e autonomia no ambiente digital, compreendendo como utilizar recursos online para aprimorar sua educação, procurar emprego, realizar transações financeiras e se conectar com serviços públicos. Além disso, o letramento digital envolve também a capacidade de identificar notícias falsas, proteger dados pessoais e participar ativamente do debate democrático através das plataformas digitais. Sem essas habilidades, corremos o risco de ampliar ainda mais as desigualdades sociais, criando um abismo entre aqueles que têm acesso pleno ao mundo digital e aqueles que permanecem excluídos.





Iniciativas de letramento digital devem ser priorizadas desde a educação básica, incluindo disciplinas que estimulem o pensamento crítico, a resolução de problemas e o uso consciente da tecnologia. A capacitação contínua de professores e a inclusão de conteúdos que abordem desde noções básicas de informática até temas mais complexos, como programação e robótica, são passos fundamentais para preparar as novas gerações para um mercado de trabalho cada vez mais digital. Para adultos e idosos, programas de alfabetização digital voltados para o uso prático e cotidiano, como a navegação em serviços bancários e governamentais, são essenciais para promover a inclusão plena.

Além de combater a exclusão digital, é essencial que a transformação tecnológica contemple grupos que historicamente enfrentam barreiras adicionais para se inserirem no mercado de trabalho e no ambiente digital. Entre eles, destaca-se a população negra, que muitas vezes não encontra espaço ou apoio necessário para acessar oportunidades na área de tecnologia. O percentual de profissionais negros em TI ainda é tímido, refletindo um problema estrutural que começa na falta de acesso a uma educação de qualidade e se perpetua pela ausência de políticas de inclusão e estímulo.

Como afirma a Dra. Rosangela Hilário: “A tecnologia transformou pessoas não brancas em escravizadas, roubando-lhes a dignidade e a humanidade. Nada mais justo que o setor tecnológico contribua com a reparação, inclusão e transbordamento de cidadania. A tecnologia que nos escravizou vai contribuir para nos emancipar.” Para mudar essa realidade, precisamos de ações concretas que promovam a inclusão digital e a capacitação profissional de negras e negros. Iniciativas como bolsas de estudo em cursos de tecnologia, programas de mentoria e parcerias entre empresas e comunidades são essenciais para criar um ecossistema mais diverso e inclusivo. Além disso, as empresas devem se comprometer a criar ambientes de trabalho que valorizem a diversidade e combatam o racismo estrutural, oferecendo oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento.

As mulheres também enfrentam desafios significativos para se posicionarem no setor de tecnologia. Embora representem mais da metade da população brasileira, elas correspondem a uma parcela ainda reduzida dos profissionais de TI. Essa disparidade é resultado de uma série de fatores, que vão desde a falta de incentivo para que meninas e jovens escolham carreiras nas áreas de ciência e tecnologia, até ambientes de trabalho pouco acolhedores e hostis.

Iniciativas voltadas à inclusão de mulheres na tecnologia precisam começar cedo, com programas educacionais que despertem o interesse por carreiras STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) desde a infância. Além disso, políticas corporativas que promovam a equidade salarial e ofereçam apoio a mulheres em posições de liderança são fundamentais para garantir que elas não apenas entrem no setor, mas também prosperem nele. A presença feminina no ambiente tecnológico traz novas perspectivas e soluções inovadoras, enriquecendo o ecossistema como um todo.

Por fim, é importante lembrar que a tecnologia tem um papel crucial na promoção da transparência e no combate à corrupção. Soluções como blockchain e inteligência artificial são ferramentas poderosas para garantir a integridade dos processos e a fiscalização de recursos públicos. Quando utilizadas de maneira estratégica, podem aumentar a confiança da sociedade nas instituições e contribuir para uma gestão pública mais eficiente.

O apoio ao empreendedorismo e à economia criativa também deve ser prioridade. Startups e pequenas empresas inovadoras encontram nas soluções digitais um meio de crescer e competir globalmente, gerando empregos e impulsionando a economia. Programas de incentivo e desburocratização, aliados à promoção do letramento digital, são essenciais para transformar o Brasil em um hub de inovação, onde todos possam ser protagonistas da mudança.

Em resumo, a tecnologia pode e deve ser o alicerce para uma transformação social abrangente. É necessário garantir que todos os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso e competências para usufruir desse novo mundo digital. O letramento digital, aliado a investimentos em infraestrutura e políticas inclusivas, é a chave para criar um país mais justo e conectado, onde o progresso tecnológico realmente beneficia a todos.


### Sobre o Autor


Christian Tadeu é Presidente da Federação Assespro, entidade que representa o setor de Tecnologia da Informação no Brasil. Com uma trajetória dedicada ao fomento da inovação e à capacitação profissional, acredita no poder transformador da tecnologia para impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país.



Rosângela Hilário é Dra em Educação com pós-doutorado em direitos e humanidades e educação, Neta da Dona Djanira, mãe do Igor e Avó da Sophia. Líder do Grupo de Pesquisa Ativista Audre Lorde. Atualmente é Assessora no CDESS/ SRI/PR.

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